segunda-feira, julho 10, 2006
Querida prima,
Nós por cá todos bem, espero que por aí também. Que bom foi receber a tua carta tão rápido! Desejo mesmo que essa seja a terra encantada que tanto desejas, mas que não seja Óliwood porque aí só acontecem desgraças e as pessoas andam sempre bêbadas e drogadas.
Dizes que aí existem muitos prédios, e que um igual dava para meter lá toda a nossa aldeia. Espero bem que isso não aconteça por aqui porque, com a sorte com que ando, ainda ficava com a Maria Ceifeira como vizinha de cima. Ela ontem andava outra vez armada em parva. Se não fosse o Justino da Junta tinha-lhe dado dois sopapos na cara.
Na tua carta falas também do Tóni que tinha os óculos de fundo de garrafa. Sabes que desde a festa de Nossa Senhora da Agonia nunca mais o vi? Parece que foi ter com a irmã a França e agora é pedreiro. Cegueta como é, deve andar a fazer os prédios todos tortos.
Não fui eu que pedi ao motorista para colocar essa cassete, mas bem que podia ter sido. Espero que me escrevas sempre que possas a contar as novidades da cidade. Eu vou tentar fazer o mesmo.
Na tua carta falas também de um tal de Lobo Antunes que andou na guerra. Não conheço. O único que conheço que foi para a guerra foi o Justino da Junta e ele veio de lá todo maluco, cheio de tatuagens e a gritar «eles vêm aí». Ainda ontem, quando eu estava quase a espetar os sopapos na Maria Ceifeira, ele gritou, bem alto, «eles vêm aí». Ela, não sei se assustada com o grito ou com medo que eles viessem mesmo aí, amainou e foi p’ra dentro de casa.
Como te disse, por aqui vai tudo na mesma desde que partiste. Andamos é um pouco tristes por te teres ido embora. A avó foi até acender uma vela na capelinha, mas como ela já não vê muito bem, ia queimando aquilo tudo. Valeu o Joaquim que ia a passar e lá resolveu o problema.
Que novidades contas? Escrevo-te para a pensão onde dizias ficar os primeiros dias. Já arranjaste outra casa? E emprego? Como é tudo por aí? Conta coisas!
Beijos do primo Augusto.